Faz hoje uma semana que embarcaste na derradeira viagem. Trajado a rigor, partiste como sempre viveste: depressa demais. Sem tempo para envelhecer. Agora, nunca mais. Nunca mais o teu sorriso alvo. Nem os cabelos grisalhos ao vento, tão alvoroçados como a tua voz. Agora és um vazio que vamos preenchendo de memórias. E tantas que nos deixaste. Eras intenso em tudo o que fazias. “Onde é que andaste embarcada?”, perguntaste-me no dia em que entramos no mesmo barco. Mal sabíamos que era o barco do amor. Nesse tempo, deste-me mundo. E juntos criámos vida. Viverás para sempre num rosto de criança, mistura perfeita dos meus e dos teus traços. A partir de agora, recordar também será viver. De alma ainda esfaqueada, numa anestesia geral dos sentidos, eu prometo: vou continuar-te.
por Cláudia Sofia Sousa