Haverá outra forma de treinar o desapego senão perdermos alguma coisa de vez em quando? Estimamos os nossos objectos como se pessoas fossem e choramo-los quando partem, como se não suportássemos a existência sem eles. E esquecemo-nos sempre que nada temos de verdadeiramente nosso. Tudo vem e vai. De tudo e de todos teremos de nos despedir um dia, para sempre. Há todo um mundo que não voltaremos a ver e que não levaremos connosco no bolso. Mas insistimos. A nossa casa. O nosso carro. Os nossos objectos pessoais. Ignoramos tufões, incêndios e terramotos. Não queremos pensar nisso. Que mau agoiro. Calamidades dos outros, imagens longínquas repetidas pela televisão. Mas pode-nos acontecer. Estaremos preparados para, a qualquer momento, recomeçar do zero sem nada do que acumulámos ao longo da vida? Ninguém está. Não há quem acredite ser capaz. Até ao dia em que a fatalidade nos invade a vida e nos troca os sonhos. Ainda ontem, depois de me sentir extraordinariamente feliz com um duche qu
por Cláudia Sofia Sousa