Estejas onde estiveres, assistirás aos mesmos rituais. Ao vivo ou através da televisão, um coro de vozes em contagem decrescente, descerá uma escadaria imaginária que separa o número dez do zero. Nesse preciso instante, será meia-noite. Doze badaladas de um relógio qualquer vão anunciar ao mundo que está prestes a começar a primeira hora do primeiro dia do primeiro mês de um novo ano. Alguém terá uma garrafa na mão e não tardará uma rolha de cortiça libertar-se-á num estalido seco atravessando o ar sem que ninguém saiba onde vai parar. Rostos subitamente iluminados por uma felicidade sem razão exclamarão vivas e trocarão beijos e abraços e votos de dias felizes, por entre goles de espumante ou champanhe. Os flutes preenchidos pelo líquido dourado e borbulhante elevar-se-ão várias vezes, tilintando uns nos outros em múltiplos brindes de braços entrecruzados. Sentirás na boca um gosto amargo que aos poucos será mais doce e mais doce e mais doce e caminharás rumo a um ponto onde possas
por Cláudia Sofia Sousa