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A mostrar mensagens de junho, 2018

Desabafos salteados

Há dias em que a vida parece tão simples. Basta respirar e saciar as necessidades. Comer, orar e amar. Fazer o que nos dá alegria e prazer. Conviver com as nossas pessoas. Pensar pouco e sentir muito. Creio que isto é saber viver.

Uma casa sem livros

Era uma casa sem livros. Estava cheia de solidão. Sobre as prateleiras não viviam vozes adormecidas à espera de uma carícia. Havia pessoas que trocavam olhares vazios. As palavras resumiam-se a monossílabos, arrotos  cerebrais espontâneos e inúteis. À noite, o burburinho que sempre emerge dos livros que nos espreitam  vigilantes, não existia. No ar, apenas solidão e silêncio, ausência e vazio, o roncar inerte de corpos sem  alma, espelhos da casa, desta casa sem livros, com portas e janelas blindadas, à prova de palavras  e  ideias, como se estas armas fossem proibidas por lei.

Continuas a fazer anos, sem envelhecer…

Não me esqueci. Como poderia esquecer-me? Hoje farias 60 anos e só o cabelo grisalho denunciaria a tua idade. Sempre pareceste muito mais novo, exibindo uma saúde férrea de espalhar inveja. Não fosse aquela maldita doença e ainda aqui estarias, a massacrar-nos com o teu mau feitio militante. Quando alguém parte cedo demais, até os defeitos deixam saudades. A implicância com coisas menores era o teu forte. Por vezes, parecias possuir superpoderes e exigias o mesmo heroísmo de todos em teu redor. Não eras o amor perfeito mas um grande companheiro de viagem. Não eras um educador exemplar mas um pai dedicado e carinhoso. Eras um pai-avô, como te autoproclamavas, depois de teres repetido a experiência pela quarta vez aos 50 anos. Nesse dia, há dez anos, visitámos o Oceanário e à saída tirei-te uma fotografia. Tinhas um bebé de três meses ao colo. De olhos cerrados, beijavas-lhe a testa, inspirando amor. Era o teu “brotinho”, dizias tu. Era o “nosso tesourinho”, dizia eu. Como o tempo pas