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Mensagens

A mostrar mensagens de 2014

Reportagem # 28

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 25 de Dezembro de 2014

Lago dos Cisnes

Foto: Russian Classical Ballet; O Lago dos Cisnes passou pelo Auditório Municipal de Olhão na noite de 16 de Dezembro. Abre-se o pano e a beleza invade-nos os sentidos. Os ouvidos absorvem a música que num arrepio nos volta a sair do corpo através da pele. Os olhos são demasiado pequenos para tamanho apelo visual. A perfeição rodopia e salta sob a forma de corpos graciosos. No ballet tudo é leveza, harmonia e equilíbrio. A arte da contemplação, quando aprendida, é um bálsamo para alma. A mente eleva-se e a criatividade flui em nós. Este é o poder da cultura. Dizem que não dá lucro os que medem a riqueza por valores de cobre e papel. Mas que nunca se renegue o poder de cultivar a mente. A riqueza interior de cada indivíduo não tem preço mas vale ouro. Finalmente pude assistir a um bailado clássico e fruir de uma manifestação artística de excelência. O Lago dos Cisnes pelo Russian Classical Ballet é um espectáculo memorável. A história do príncipe Siegfried que encontra o seu ideal

Reportagem # 27

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 11 de Dezembro de 2014

Repousa em mim

De repente, pareceste-me tão pequeno. Era como se tivesses encolhido e voltado a ser criança. Ali, aninhado no meu colo, com o peso dos problemas suspenso no meu regaço, ressonavas baixinho, inspirando tranquilidade. Nunca tínhamos estado tão perto do amor. Eu podia tocá-lo ao de leve com a ponta dos dedos. Desenhava-lhe todas as formas, contornando-as. Queria fixá-lo para sempre na forma dos teus lábios, no desalinho das tuas sobrancelhas, na suavidade tenra das tuas orelhas adormecidas. De quando em vez, vergava a minha boca ao encontro da tua testa, fazendo um beijo tocar-lhe como uma pena. Respirava-te e suspirava, na certeza do fim iminente daquela paz tão confortável, tão difícil de manter. Dorme um sono grande, meu menino. Em mim, sem pressa e sem medo, poderás sempre repousar.

Reportagem # 26

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 27 de Novembro de 2014

Reportagem # 25

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 20 de Novembro de 2014

O essencial e o possível

Num tempo em que tudo é urgente, em que tudo são impossíveis, garantir o essencial parece tão pouco. Na verdade, é escusado fazer grandes planos, a vida encarrega-se de levar-nos à deriva de constantes imprevistos. O melhor é deixarmo-nos levar, com leveza, flutuando sobre a maré de acontecimentos. Quando a saúde é uma emergência,  tudo o que era para ontem fica adiado para um dia destes, para quando for possível.  Numa vida limitada aos serviços mínimos, garantir o conforto de quem amamos, cuidando e protegendo a nossa razão de viver, é o essencial. Sendo possível garantir o hoje, o amanhã pode sempre esperar.

Reportagem # 24

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 23 de Outubro de 2014 Outros artigos

Reportagem # 23

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 16 de Outubro de 2014

Os gatos não têm vertigens

"Os gatos não têm vertigens", António Pedro Vasconcelos, 2014, 124 minutos Um grande filme. Um dos melhores do cinema português a que assisti nos últimos anos. Repleto de emoções fortes do princípio ao fim, sem nunca se aproximar do lamechas. A lágrima só nos vence pela beleza das mensagens. Uma improvável história de amizade nascida entre uma viúva solitária e um jovem delinquente que nunca conheceu o amor de pai nem mãe. Um encontro feliz gerado pelos acasos menos bons da vida. Antes de se tornar o melhor amigo de Rosa (Maria do Céu Guerra), Jó (João Jesus) descobre no terraço do seu prédio a vista mais bonita de Lisboa. Uma paisagem que o inspira a desabafar com o papel os infortúnios dos seus dezoito anos, marcados pelo abandono da mãe e pelos maus tratos do pai alcoólico. Por nunca ter conhecido o bem-querer, é com desconfiança que Jó recebe sempre o amor fraterno de Rosa. “Porque é que me tratas bem?”, questiona-a,  depois de já a ter roubado. Todos precisamos de

Os Maias

"Os Maias", João Botelho, 2014, 135 minutos Que não vá ver “Os Maias” de João Botelho quem não tenha lido o romance de Eça de Queirós ou procure mero entretenimento. O filme mais visto nas salas de cinema portuguesas em 2014 está longe de ser um produto massificado de consumo fácil e rápido. É preciso ser-se capaz de compreender a essência do cinema para gostar-se desta adaptação cinematográfica. Um começo a preto e branco faz-nos recuar no tempo aos primórdios da sétima arte. Depois, a complexidade e a entoação teatral do texto só poderá ser apreciada pelo espectador mais sensível ao lirismo que caracteriza a obra de Eça de Queirós. Outra surpresa são os cenários. Feitos de enormes telões artisticamente pintados ilustram na perfeição cada local de passagem, numa alusão lírica, como se cada cena fosse um acto de ópera. A destacar, a beleza dos protagonistas. Graciano Dias é um Carlos da Maia capaz de encantar qualquer Maria Eduarda deste mundo e Maria Flor parece, toda e

Reportagem # 22

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 2 de Outubro de 2014

A mulher de 35 anos

Esperavas aqui chegar uma senhora de saltos altos, mas dás-te conta que ainda és apenas uma menina em bicos dos pés, tentando revelar talentos. Já não corres como aos vinte; o corpo deixou de acompanhar a pressa dos sonhos por realizar. A espera tem agora a serenidade que só a idade ensina: tudo tem o seu tempo. Não adianta desejar o que não estamos preparados para receber. Quando já esperavas só certezas, sobram-te as dúvidas. Paras mais vezes para pensar, mas a dificuldade reside numa questão sem resposta: é o mundo que muda depressa demais ou teu pensamento? Mil ideias, mil vontades, mil vezes mil pensamentos te invadem a cada instante. O que está certo ou errado, já devias saber de cor. Não te aflijas! Ninguém sabe ao certo, ainda que diga que sim. A vida é esta constante aprendizagem que não se limita à infância. No que toca a saber viver, somos crianças até à morte. Ao chegares aqui, o amor já deveria ser aquele lugar seguro aonde não chega o medo. Gostavas que fosse terra fir

Reportagem # 21

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 25 de Setembro de 2014

Opinião # 1

Jornal J - Juventude, Artes e Ideias - Município de Olhão - Edição 15 de Setembro de 2014

Reportagem # 20

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 11 de Setembro de 2014

Para onde vão os guarda-chuvas

"Para onde vão os guarda-chuvas", Afonso Cruz, Alfaguara Demorei uns três meses a ler este livro. Não que fosse aborrecido, mas demasiado extenso para os meus curtos tempos livres. O tamanho e peso da obra também não fazem dela a melhor companhia de passeio: 620 páginas de papel ainda pesam. Já sei, há os e-books… Mas ainda não consegui converter-me. Não há prazer igual ao de folhear e cheirar papel. Agora, o conteúdo. Não destaco o tema, mas o estilo. Afonso Cruz joga xadrez com as palavras. Põe e dispõe delas com a inteligência de um jogador de tabuleiro. A sua escrita é gráfica, feita de explicações desenhadas, ora preto no branco, ora vice-versa. O autor repete-nos incansável, como um aviso: tudo na vida são contrastes: “lágrimas seguidas de risos, euforias precedidas de desgostos”. Este escritor, que integra a nova geração de ouro da literatura portuguesa, é já um monstro literário. Num tom muito próprio, usa uma voz grossa para nos gritar palavras meigas. É senhor

Reportagem # 19

Jornal "Dica da Semana", edição nacional, 21 de Agosto de 2014

Férias para sempre

Eu e tu, em 1980. Há quem parta sem dizer adeus. Não por indelicadeza, mas por desconhecimento. Ninguém pensa fazer uma viagem só de ida. Voltar está sempre nos planos de quem vai a algum lugar. Regressar a casa e aos braços de quem nos espera sempre, faz parte do prazer de ir. Mas, desta vez, foste e não voltaste. Estavas de férias em Espanha e essa será para sempre a tua última memória. Imagino-te feliz, a falar sempre muito com um sorriso maior que o rosto. Tento recordar-me da última vez que nos encontrámos, sem nunca pensarmos que fosse a última. Eu acabava de ser mãe e tu nem querias acreditar como o tempo voa. Com a minha filha nos braços, olhavas-me recordando-me com cinco anos, quando fui ao teu casamento. Tínhamos vinte anos de diferença, mas não se notava. Talvez por eu parecer mais velha, talvez por tu manteres um corpo e um espírito sempre tão jovens. Eras fresca e iluminada. Raiavas alegria por onde passavas, mesmo que chorasses por dentro. Tu, São, eras assim… Um r

Reportagem # 18

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 7 de Agosto de 2014

Reportagem # 17

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 24 de Julho de 2014

Reportagem # 16

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 24 de Julho de 2014

Reportagem # 15

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 17 de Julho de 2014

Mulher (im)possível

Desejo-me sábia e serena A mulher dos teus sonhos Com voz fluente de pausas E olhar firme de certezas A tocar-te com palavras Feitas de pele macia Não serei mais a tempestade Que irrompe na madrugada Serei só um corpo em brasa Um incêndio em teus lençóis Serei sempre a tua casa Serás sempre a minha âncora Juntos seremos heróis 

Reportagem # 14

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 10 de Julho de 2014

Reportagem # 13

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 3 de Julho de 2014

Reportagem # 12

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 3 de Julho de 2014

Errar para aprender

Conhecer-te é também conhecer-me. Entendo melhor os meus actos à luz das tuas reacções. Nas adversidades que ultrapassamos, descubro sempre novos limites e limitações, forças ocultas e fraquezas emergentes. Quero acertar o passo com a vida. Dançar mais e correr menos. Construir futuros acertados anulando erros passados. É em ti, como num espelho, que melhor me revejo. Para o bem e para o mal. Ensinas-me a ler pensamentos e a adivinhar vontades, a antever medos e a suportar fragilidades. Um amor, quando nasce, abre caminhos, quando cresce, faz florescer trepadeiras infinitas de chegar sempre mais alto e mais longe. É na distância que mais te encontro, em toda a falta que me fazes. A vida está cheia de estranhas réguas de medir sentimentos. Sei mais de mim sempre que te reconheço um erro. Hoje sei que errar é o pretérito imperfeito do verbo aprender. 

Reportagem # 11

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 19 de Junho de 2014

Reportagem # 10

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 5 de Junho de 2014

A insustentável busca do prazer

Andamos a viver em função do momento de alívio.  Na vida, todos os pensamentos vão dar ao prazer. E sempre que ele acontece, o mundo pára. Há segundos que valem por anos, risos perpetuados nos ecos da memória. Nesses momentos, estar-se vivo revela-se um milagre ainda maior. Empreendemos dias e suores de esforço em prol de uns segundos de libertação. Deixar de pensar, apenas sentir. A felicidade é aquele instante de ilusionismo em que a percepção anula a preocupação. O tempo fica suspenso. Há um dedo invisível que bloqueia a progressão dos ponteiros do relógio. O sorriso rasga-se e o universo amplia-se. Nesse ápice, tudo volta a ser possível. Andamos carentes de viver. À falta de tempo para vivências, somos perseguidos pelas lembranças. Antes de adormecer, eu volto todos os dias ao último lugar onde fui feliz. Era noite e a minha almofada era o teu peito.   

Reportagem # 9

"Dica da Semana", edição regional Algarve,  15 de Maio de 2014

Olhar com o coração

És como eu gosto. Que me importam outros olhos e outras vozes. Somos todos sempre mais do que fazemos parecer. Quero abrir o saco que carregas e espreitar lá para dentro. Por entre os destroços da vida, posso sempre tentar descobrir tesouros. Os teus gestos têm as cores da Primavera e enchem os meus dias de flores. Os teus abraços têm cheiro de paz e o aconchego sonhado nos Invernos. Conseguimos ver o mundo pela mesma lente e somos capazes de olhar juntos na mesma direcção. Tantas vezes, para quê complicar. Para acreditar, basta sentir. A cada ausência tua, sinto-me adoecer de saudade. Sou vítima indefesa daquele bichinho que se alimenta de migalhas de coração. Quando, à tua passagem, todas as portas se abrem, todas as luzes verdes se acendem, a vida dá-me um sinal: é hora de avançar, sem olhar para trás. Tudo o que nos faz sentir e ser pessoas melhores, também pode ser amor.

Reportagem # 8

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 1 de Maio de 2014

35 de Abril

No dia 25 de Abril de 1974, eu ainda não estava. Por isso, não vou contar o que não vivi. Prefiro antes revelar o que sonho e sinto. Sonho com uma realidade evoluída, onde ninguém tenha de trabalhar com o esforço de um atleta olímpico para ser remunerado como um amador. Sonho com uma esperança de berço: que cada bebé que nasça seja um cérebro útil ao serviço do seu país. Porque, a cada geração que passa, os filhos vão sendo cada vez melhores que os pais, ou não fosse esse o objectivo único da humanidade. Nascer, aprender, melhorar e passar o testemunho. Sonho com uma geração que não sinta o dia 25 como se fosse o 35 de cada mês. Que não haja mais mês que salário, muito pelo contrário! Que o trabalho tenha um preço justo e adequado ao saber fazer de cada um. Sonho com um país que - como li algures há dias - deixe de fazer famosa tanta gente estúpida, remetendo ao anonimato os que realmente conquistam feitos geniais. Enfim, perdoem-me o desabafo de meia-noite, mas é o que sonho e

Reportagem # 7

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 24 de Abril 2014

Reportagem # 6

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 17 de Abril de 2014

Mensagem de condolências

Perder a mãe é uma amputação. É sentir a morte arrancar-nos um membro à dentada. A partir daí, tudo será como aprender a fazer tranças com uma só mão. No início, vai parecer impossível. Será como caminhar com uma só perna. Coxeando e caindo, sem ter quem nos apare. Viver sem mãe deve parecer-se a caminhar sem chão. Escrevo no domínio da suposição, porque felizmente não sei o que isso é. Provavelmente, se a lei da vida não atraiçoar as contas, um dia essa dor irá tocar-me. Que buraco fundo a falta de um mãe consegue escavar! De um pai sente-se a falta. Muita. Mas uma mãe sai de nós como um dia saímos dela: com um grito de parto. Um dia, quase todas as mães juraram não aguentar as dores de um outro corpo a sair do seu. Assim serás, minha mãe. Quando partires, vais deixar-me de herança um longo trabalho de parto. Sozinha, terei de parir forças para suportar esta vida sem ti. Se ao menos pudesses dizer-me onde reencontrar o calor das tuas mãos…  (Dedicado a uma mãe-coragem que ontem

Reportagem # 5

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 10 de Abril de 2014

Desejo de renascermos juntos

Para ti, "belo adormecido". Sinto-me como se, num dado instante, tivesses depositado em mim uma semente chamada encanto, que a cada lágrima se rega e cresce, criando rebentos que não param de ramificar. Cresces em mim como um desejo de reencontro com algo que nasci para conhecer. Se possível fosse engravidar os pensamentos, isso seria o que estou a sentir. Quanto mais penso, mais cresces em mim, como um filho que um dia terá imperativamente de nascer. Esse dia será um milagre. E nós, que não somos santos, cederemos ao prazer da carne, regressando às origens, como se a vida nos desse uma segunda chance para renascer.

Reportagem # 4

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 3 de Abril de 2014

Matéria-prima

A palavra é o meu tijolo. Arremesso-a todos os dias, não para erguer muros mas para construir pontes, elos de ligação entre as pessoas. Gosto de palavras firmes que não sejam rígidas. Não gosto de palavras duras, feitas de pedra. Gosto delas suaves, parecidas com plasticina, as que se deixam moldar à situação e têm o efeito balsâmico de um abraço. Todas as palavras deveriam ser usadas para unir, erguer, construir. A amizade é uma palavra funda: dentro dela cabe um poço de palavras. O amor é uma palavra-mistério: todos o sentem, ninguém o viu. É como o vento, atravessa-nos o corpo, desarruma-nos as ideias e lá vai, voltando sempre, inesperado, voando selvagem. A palavra é o esboço de quem não sabe desenhar. Aos olhos de um escritor, todo o mundo é um puzzle de palavras encaixadas, onde sempre faltam ou sobram peças. Toda a palavra pode, toda a palavra muda. Por isso, lança as tuas palavras. Mesmo baralhadas como as cartas, elas têm poder. Ao não as usares, abdicas de ser quem és, e e

Reportagem # 3

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 27 de Março de 2014

Dá tempo ao tempo

"About time", Richard Curtis, 2013 Um filme que vi há dias inspirou-me o tema. Até porque nunca houve conselho mais sábio que me agastasse tanto. Porque viver implica esperar, crescer para aparecer. Não somos a casa pronta, chave na mão. Nascemos um edifício vazio que a vida vai mobilando. Com a idade, nós casas, vamos crescendo, ganhamos divisões. O mobiliário, esse, vai chegando a conta-gotas, com o passar do tempo. Uma tragédia aqui, uma alegria ali, uma descoberta acolá. A aprendizagem começa por exibir-se nua e acaba fechada em gavetas, como os objectos que possuímos, muitas vezes sem saber porquê, tantas vezes sem saber para quê. Adiante, tudo acaba por fazer sentido. Nada acontece cedo nem tarde demais. Nós é que vivemos na eterna esperança em que algo nos aconteça já. Ou, por vezes, simplesmente não vivemos, temendo o que nos possa acontecer. E se pudéssemos voltar atrás, àquele instante que determinou uma mudança na nossa vida, e fazer tudo de novo, de outra man

Reportagem # 2

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 13 de Março de 2014

Reportagem # 1

"Dica da Semana", edição regional Algarve, 13 de Março de 2014

Parto sem dor

11 de Março de 2008, berçário do Hospital de Santa Maria, Lisboa  Fui a conduzir para o hospital. Não suspeitava que pudesse ter de passar lá a noite, por isso levava como única bagagem a discreta barriga de oito meses. A tensão a subir, eram só uns exames de rotina a pedido do médico, pura precaução, afinal “ainda falta muito tempo”, pensava eu. Estava longe, muito longe de imaginar que daí a poucas horas estaria em pânico com uma bebé prematura nos braços. Fui mãe sem dores de parto. Lamento até hoje desconhecer o significado de uma contracção. Fui poupada ao ridículo de me ver com uma poça de água aos pés, como se urinasse sem sentir. Não, eu não sei. Sou mãe sem conhecer os gritos de dor dos partos romanceados. Acordei de uma anestesia geral, recordando-me lentamente quem era e onde estava. E poucos minutos depois, ainda atordoada e dormente, vi entrar uma enfermeira com um bebé nos braços. “Acho que é sua!” – Disse-me, em tom de brincadeira. Sem saber ainda o que fazer ou pen

Dom Casmurro

"Dom Casmurro", Machado de Assis, edição Dom Quixote Há mais de dez anos que adiava a leitura deste livro. Sabia-o importante, mas a edição que tinha em casa era de letra miudinha, pouco convidativa aos olhos. No início do ano, esbarrei com esta capa da Dom Quixote numa prateleira da FNAC e Dom Casmurro escolheu-me: leitora, tens de me levar contigo! "Um dos 1000 livros que todos devemos ler", destacava um autocolante vermelho, a título de recomendação do "Guardian".  Ao chegar ao fim das 309 páginas deste clássico da literatura brasileira, escrito por Machado de Assis no final do século XIX, editado em 1900, sinto-me mais culta e rica em palavras. Sem utilizar vocábulos caros, a linguagem de Machado de Assis é acessível e cativante do princípio ao fim. O romance está organizado em 148 minúsculos capítulos de 1/2 páginas, o que proporciona uma leitura fluída e contínua muito agradável. A história de amor de Bentinho e Capitú vai sendo narrada por

Livro em branco

Era uma vez nós dois Num encontro imprevisto O encanto aconteceu Não mais nos vimos depois E a saudade foi pousando Dor leve que vai pesando Foi o que sentimos os dois Treinando o esquecimento Nossos dias vão passando Tentando varrer soprando O mais nobre sentimento Era uma vez nós dois Assim começa a história Que nos cabe inventar Até ao fim da memória

O abraço

Acordei com a vontade faminta que a noite não soube adormecer. Comecei as tarefas do dia sem conseguir repousar a distracção. Estavas em cada objecto como um fantasma. Vejo-te mas não estás ali. Imagino-te apenas, mas tanto me pesa carregar-te para todo o lado. Preciso descarregar-te de mim. Hoje quero depositar-me num abraço teu, como quem cai num poço sem fundo. Vou procurar-te na surpresa que não esperas. Fazer-te borbulhar no descontrolo do medo. Vou encontrar-te na rua dos amores-perfeitos, quase às portas do céu. Vais poupar nas palavras, fixar-te na atenção dos outros sentidos. Quando me vires, serei toda contornos e cores, pele suave e cheiro doce. E tu serás a felicidade disfarçada numa vergonha infantil. No momento em que os teus olhos e os meus olhos se encontrarem num sorriso, seremos um instante para sempre. Dois corpos que se amam num alívio apertado. Um abraço que é um aperto de silêncios, o reencontro sonhado com a outra metade de nós.