Há horas em que sofro de silêncio agudo. Num acto de egoísmo, engulo as palavras e guardo-as só para mim. Retenho-as, não sei se na garganta ou na cabeça, apenas porque são palavras feias que não quero partilhar. Se tivesse alma de génio, como o poeta, escreveria sempre Sol. Mas, entretanto, chegou o Inverno gritando trovões e há todo um inferno que se apodera de mim, usurpando a minha colecção de vocábulos felizes. Quando não escrevo, jogo às escondidas com o pensamento e bebo silêncio em goles nocturnos de chá, aquecida pelas palavras de um livro.