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A mostrar mensagens de março, 2010

O Meu Pai

Lembro-me de como me acordavas, de forma irritante, puxando-me os dedos dos pés. Era uma forma original de dizer em silêncio “salta da cama”. Aliás, os teus silêncios sempre me disseram mais que as tuas palavras parcas, nem sempre muito doces. As nossas conversas sempre foram pontuais, casuais mas sempre muito regeneradoras das feridas causadas pelos percalços da vida. As tuas palavras, meu Pai, as tuas poucas palavras sempre foram sábias. Sempre tiveste explicação e solução para tudo. Quando eu tinha uns dez anos, recordo-me de ter dificuldade em adormecer. Temia o simples facto de fechar os olhos. Tinha medo de adormecer e morrer durante o sono. E depois, lutava contra o cansaço, ao ponto de ficar acordada, depois de toda a família ter já adormecido. Em pânico, rumava ao vosso quarto e tentava acordar-vos, de mansinho, sem sobressaltos. “Mãe, Pai, está toda a gente a dormir e eu estou sozinha no mundo!” – soluçava, entre uma e outra lágrima que me escorria pelo rosto. Foi numa dessas