Maternidade Alfredo da Costa (MAC), Lisboa, 29 de Setembro de 1979 O mundo atravessa o ano de 1979, os calendários permanecem suspensos no mês de Setembro, enquanto a minha mãe percorre os corredores da maternidade, ainda sem saber se será menino ou menina. Já passa do tempo e eu pareço teimar em não querer nascer. Por isso, naquele dia, sou obrigada a fazê-lo à força. Naquela tarde de finais de Setembro, é uma parteira amiga da minha mãe que a conduz a Lisboa. Ainda em casa, dá-lhe uma injecção para induzir o parto, antes de a levar para o carro onde põe a tocar uma cassete de fados. É o choro das guitarras que há-de embalar a dor das primeiras contracções. Ao passar a ponte, ao cruzar o Tejo, enquanto acaricia a enorme barriga como se fosse já um bebé, a minha mãe tem mil sonhos para mim. Todos os seus pensamentos são bons. Todos os seus sonhos são possíveis. Naquele instante de infinito, ela carrega no ventre uma explosão de energia prestes a acontecer. Uma nova pessoa, uma no
por Cláudia Sofia Sousa