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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2022

A SOLIDARIEDADE PÕE-SE A CAMINHO

Camiões carregados de ajuda preparam-se para atravessar a Europa até às fronteiras da guerra. Quando a solidariedade se faz força na partilha comunitária, são os mais pobres que mais partilham as suas misérias com os que nada têm. É o ímpeto de ajudar que nos faz humanos, reconhecendo no outro carência maior que a nossa. Partilhar o pouco que temos torna-nos sempre maiores, ainda que mais pobres. No gesto de dar sonha-se a alegria do outro, mesmo a sorrisos de distância da última memória feliz. Destemidos compatriotas, com apurado sentido de missão, fazem-se ao caminho para ajudar no combate. Pela frente têm milhares de quilómetros, até uma chegada sem direito ao cansaço. Por cá, confiantes na fé, os que se mantêm à espera de melhores notícias trocam manifestações por vigílias de oração pela paz. Ainda antes das tropas russas entrarem em Kiev, a Ucrânia assina mais um ato de valentia aderindo à União Europeia. A guerra continua devagar, na ótica de quem assiste do sofá. Quando os refug

A SOLIDÃO MATERNAL DAS MULHERES

Enquanto os homens ficam para defender a pátria, as mulheres partem para proteger os filhos. Num cenário de guerra, acentua-se a solidão maternal das mulheres, predestinadas à missão maior de garantir a continuidade da descendência. Os homens arriscam a vida, as mulheres carregam a sua e outras tantas ao colo, até à incerteza de um destino seguro. Sempre que um homem fica para trás, por imposição ou vontade própria, uma mulher é obrigada a munir-se de coragem para seguir em frente. Um filho acaba por ser a força motriz para continuar a caminhar. Nos escombros dos sonhos, arruinados pela vida que não aconteceu conforme o esperado, os filhos são o oxigénio das mães asfixiadas pelo desespero.

A GUERRA EM DIRETO

Estamos aqui como se estivéssemos lá. As imagens e os sons do medo chegam-nos em tempo real, fazendo tocar as nossas sirenes interiores. É alarmante imaginar a nossa vida a ruir assim, abrindo mão de tudo o que damos como certo, em nome da sobrevivência. Deixar de ter direito ao conforto da cama e ao sossego do sono. Deixar para trás a casa à qual não sabemos ser possível regressar. Despedirmo-nos de filhos sem a certeza do reencontro. Caminhar pela destruição dos dias na certeza de que tudo é incerteza. Aprender a aceitar a impossibilidade imediata de suprir a fome, a sede, o sono, a higiene, a necessidade de comunicar com quem amamos é uma regressão civilizacional. Sob a ameaça da privação, facilmente nos podemos transformar em animais selvagens. Quando começarem a escassear os recursos, irá imperar a lei do mais forte. No terceiro dia de uma guerra às portas da Europa, termino o meu banho quente com o desconforto desta reflexão interior. O pequeno almoço que se segue parece-me um tr

O TEU INVISÍVEL

Todos te veem, e até fingem gostar de ti, mas ninguém repara na tua solidão. Espreitam o cintilar áureo dos teus dias, ignorando a escuridão do teu quarto. Ninguém imagina a profundidade da caverna dos teus medos, ninguém sabe onde escondes o baú dos teus segredos, ninguém sonha a lonjura do refúgio ermo dos teus sentimentos. Até que alguém ouse dar-te a mão, arriscando percorrer contigo os labirintos mais estreitos, com coragem para provar do melhor e do pior, até descobrir o teu ponto de equilíbrio e aí reconhecer o tanto que és.