De vestido negro cingido, cabelo negro comprido, ela entra em palco e faz-se silêncio, que se vai cantar o “Desfado”. Se este último álbum de Ana Moura é um sucesso mundial, que a consagra definitivamente, não é por acaso. Num estilo muito singular, ela consegue literalmente desconstruir a melodia tradicional do fado, preservando a sua essência. A receita de tamanho sucesso, quanto a mim, é uma mistura explosiva: o calor da voz grave, o jeito sensual de um corpo que se bamboleia discretamente ao ritmo da música e uma simpatia de sorriso sempre rasgado. A tudo isto, soma-se ainda a poesia intensa e vibrante de cada letra e, na actuação ao vivo, o mérito dos músicos que a acompanham em palco. Além da guitarra portuguesa, um baixo, um piano e uma bateria são os instrumentos a que voz de Ana Moura se encosta para fazer nascer canções de indiscutível beleza, que proporcionam a quem ouve momentos de raro prazer. Ontem à noite, no auditório municipal de Olhão, o meu corpo confirmou com a