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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2018

Mãe

Fui eu que te fiz mãe.  Antes de mim, eras apenas uma jovem mulher com o desejo maior de abraçar um sonho. Fui eu que realizei o teu sonho. Um dia acordei nos teus braços e ofereci-te a felicidade. Fui a tua boneca de brincar aos vestidinhos cor-de-rosa e a menina-luz dos teus olhos. Depois de mim, nada como dantes. O teu coração mudou de lado e passou a bater fora do peito. Só o medo nos separa, mãe! O medo de perder, o medo de sofrer, o medo de não sermos tudo o que sonhámos ser juntas. Só o medo nos trava por vezes esta amizade sem princípio nem fim. Sem cordão umbilical, só a liberdade nos pode manter ligadas para sempre, neste amor filial.

O outro lado da morte

A tua última morada foi o meu coração. À boleia da memória, é aqui que regressas, sempre que te aperta a saudade. Deixo a porta encostada, não precisas de chave, nem de hora para voltar. Bate apenas ao de leve, para que a distração não me apanhe num susto e um grito não espante os vizinhos. Às três pancadas, entra à vontade, estou sempre tua espera. És tu quem me traz flores e até aprendeste a rezar. Num reencontro de mãos dadas, agradecemos ao Pai Nosso  e prometemos não chorar no adeus. Quando do teu corpo em brasa apenas restou a cinza do teu nome, guardaram-te como um tesouro num cofre. Fui poupada às romarias de finados e às lágrimas de cemitério. Agora, só choramos de alegria quando o sonho de um abraço quase parece real. Voltas a ter corpo e sorris para mim como antes. Estás na mesma. Eu envelheço mas tu não. Tomo-te as mãos num beijo e sorrio-te de volta, perguntando: Como é que consegues enganar a morte e fugir dessa prisão para me ver? Ludibriando-a, respondes, num piscar de