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A mostrar mensagens de 2021

ANO APÓS ANO

Por mais que tentemos, que arrisquemos, que nos esforcemos com intensidade, ano após ano, há sonhos que insistem em não se realizar. Neste dia, repetidamente, ano após ano, é tempo balanços. Como numa empresa, apuramos o saldo final. O que ganhei? O que perdi? Onde falhei? O que aprendi? O que fazer para melhorar na saúde, no amor, na prosperidade? Quantas vezes terei mais de falhar até conseguir realizar-me? Este dia, que levanta todas as dúvidas que nos cobrem a existência, não nos oferece respostas. Apenas promessas vãs de esperança em dias melhores que estão sempre por vir, mesmo que nunca cheguem. O dia 31 de dezembro é um lugar utópico, algures entre o céu e o inferno, onde livremente nos é permitido sonhar. É dia de despejar lixos, arrumar gavetas, fechar portas, abrir janelas. É hora de dar a mão aos que queremos transportar connosco para o novo ano e de deixar partir os que já não têm espaço para habitar em nós.  É também tempo de gratidão. De louvar cada experiência, cada pes

6x7

Sempre ouvi dizer que evoluímos na vida em ciclos de 7 anos. Se assim é, inicio hoje a sexta ronda na eterna busca pela felicidade. Aos 7, era a menina tímida que se deslumbrava com o saber na escola primária. Aos 14, era a adolescente que vibrava nas euforias e desilusões do primeiro amor. Aos 21, era a universitária que idealizava uma carreira de sonho. Aos 28, dava corpo ao milagre da vida e tornava-me mãe. Aos 35, no auge da vida adulta, perdia para a morte alguém que muito amei. Agora, salto a pés juntos para os 42, na certeza que grandes mudanças estão a caminho. Hoje sou o resultado da soma e multiplicação de todos estes anos. Hoje sou 6x7, uma mulher na maturidade sólida dos 42, que rasga o caminho e afugenta as dificuldades à sua passagem, pela firmeza dos seus passos. A avaliar pela grandeza dos desafios superados, arrisco dizer que os próximos 7 anos prometem ser os melhores de sempre. Que todos os sonhos me encontrem e se cumpram na realidade dos dias!

A SAUDADE DESPERTA AO PÔR DO SOL

Aquela hora em que sempre penso em ti. O dia fecha-se como um livro terminado e o pensamento ganha asas na tua direção.  Daqui, sopro-te um beijo de saudades, na esperança de encontrar aberta a janela do teu coração.

TUDO O QUE TEMOS SONHADO

Ainda espero que a felicidade me bata à porta, numa daquelas noites de insónia em que a inquietude nos desperta sem compreendermos porquê. Um telefonema fora de horas, um toque sinistro na campainha às duas da manhã, um sobressalto agudo a fazer ferver o sangue e estremecer o coração. A vida subitamente a pulsar nas veias. De sorriso grande, do lado de fora da porta, uma presença tão esperada quanto inesperada. Porque é que demoraste tanto? Pergunto. O tempo de Deus não é o nosso, respondes, sem perder nem mais um segundo da vida que nos resta para sermos tudo o que temos sonhado.

REZA POR MIM

Foi com o olhar que se abraçaram e beijaram no reencontro. A máscara encobria-lhes o sorriso mas amplificava-lhes o olhar. Era transbordante a luz com se contemplavam. Tinham o sol dentro do peito e uma ventania a varrer-lhes a alma. O silêncio era o cântico dos cânticos, deixando ecoar a melodia perfeita dos corações afinados. Em vez de palavras, trocaram orações em pensamento. Reza por mim que eu rezo por ti. Haverá maior jura de amor eterno? 

COLO DE MÃE

Num segundo, cortaram-nos o cordão e eu chorei. No clarão que me invadiu o sono, vi-me a  atravessar a solidão da vida e tive medo. Quis de volta o teu colo, mãe, o teu ventre para me  esconder de todas as dores que já me espreitavam logo ali. Tive tanto medo da vida, mãe, que  voltei a chorar. Chorei muito. Mas tu, mãe, cuidaste de mim, como ainda hoje desejo que  cuides todos os dias. Quem me dera, que ainda me pudesses pegar ao colo, mãe, sempre que  o medo espreita, de todos os ângulos da vida. Para que num suspiro, mãe, eu voltasse à  inocência, embalada pela paz que só existe no aconchego do teu seio .

FILHA DA LIBERDADE

Sou filha da liberdade.  Honrarei minha mãe até ao fim dos dias, Abril após Abril, em sinal de eterno respeito pelas dores de parto.  Ainda que os cravos murchem, na lapela dos sem-vergonha, a esperança ainda é verde e pode ser replantada nos corações sem medo.  Gritarei sempre pela liberdade, como criança perdida que clama pela mãe.  E de volta ao colo da coragem, serei sempre livre para viver e sonhar, porque mãe que é mãe não abandona os seus filhos à má sorte.

HORA DE DESCONFINAR

É tempo de sair do casulo e arriscar ser borboleta, mesmo sabendo que as asas já nos foram cortadas há muito. Arrastemo-nos adiante, com o peso de uma responsabilidade solitária que ninguém quer dividir nem partilhar, na direção de um horizonte incógnito. Seremos responsáveis quanto baste para não voltar a regredir, quando é esse o sinal que a Europa nos dá, reconfinando outra e outra vez? Aprendamos de vez o equilíbrio entre o tudo ou nada, para sermos exemplo a seguir. Não será por acaso que liberdade rima com responsabilidade. Saibamos ser livres sem deitar tudo a perder. Que todos estes dias de reclusão nos tenham ensinado ao menos o respeito pela vida uns dos outros. Que todo o caminho possa, ainda que lento e penoso, ser definitivamente em frente.

RECONFINAMENTO - VI

Deixámos de contar os dias. Ficámos fechados para preservar a vida mas, no fundo, só estamos a desperdiçá-la. Cada dia em quem não abraçamos, não beijamos, não celebramos, é uma morte antecipada. A distância obrigatória é um travão dos afetos e sem eles tornamo-nos autómatos. Mantemos as funções vitais ligados à corrente e estamos todos por um fio, a fingir que o desespero não nos consome. Continuamos, sem conhecer rumo nem direção, sem saber se algum dia este pesadelo terá fim.

RECONFINAMENTO - V

Estamos à espera do fim ou de um novo começo. As forças fraquejam como se nos tivessem engessado os membros e asfixiado o cérebro durante muito tempo. A paciência esgota-se, gota a gota, na contagem infinita dos dias. A vida em casa tem sido útil para quem se cuida, tem projetos em curso, ou deseja aprender. Para os outros, um desperdício e um desconserto. Quantas mentes vão sair desaparafusadas desta pandemia? Quantos pobres já deixaram de saber fazer contas? Quantas bocas anseiam pelo milagre da multiplicação do pão nosso de cada dia? Depois da vacina, quantos anos vai demorar a chegar a cura para todas as consequências paralelas desta doença? Alimentemo-nos de fé e acreditemos, uma vez mais, no milagre português.

14 de fevereiro de 2022

Se daqui a um ano estivermos juntos, meu amor, haja ou não pandemia, quero celebrar o 14 de fevereiro em isolamento. Poupo-te as flores, o cartão romântico e o jantar à luz de velas. Dispenso as selfies com beijos e abraços propositados. Troco tudo pela tua atenção plena no meu sorriso. Descontaminados do mundo, só tu e eu, numa preguiça feliz, olhos nos olhos, pele com pele, sem telefones, obrigações ou outras distrações. Podemos fazer uma pausa para um brunch e recomeçar, numa contemplação síncrona, onde o amor é a verdade que ressoa a cada batida atlética dos nossos corações. Nos braços do silêncio, confortados pela paz, só tu e eu, meu amor, sem público nem fingimentos, com a bênção sagrada de São Valentim.

RECONFINAMENTO - IV

Para alguns, a vida continua a acontecer. Não há pandemia que trave a força do amor. Pares que se encaixam, barrigas que despontam, crianças a pedir para vir ao mundo, mesmo com tudo virado do avesso. O futuro está a nascer todos os dias, ainda que só se fale de doença, desgraça e morte. Muitos sentem que o tempo parou, que a vida ficou em suspenso a aguardar respostas e soluções. Outros reinventam-se e descobrem soluções dentro dos problemas. Hoje, ao caminhar pelo deserto das ruas, procurando na dor física um esquecimento para os projetos adiados, compreendo, passo a passo, que temos todos diferentes velocidades. Apesar da ânsia de realizar, gosto de esperar. Pelos momentos, lugares e pessoas que conferem um sentido supremo à existência. Concluo que nenhuma solidão ou pressa deve precipitar o que só o tempo traz, naturalmente, com a sua infinita sabedoria.

QUERIA DIZER-TE

Não vou dizer-te que estou a morrer de saudades porque seria admitir uma fraqueza que não quero ter. Não vou dizer-te que te penso mil vezes por dia porque não sou dada a exageros. Não vou dizer-te que é infinito o meu desejo de te encontrar porque somos finitos e podemos acabar antes que isso aconteça. Não vou mas queria dizer-te.

RECONFINAMENTO - III

Os dias passam velozes mas o tempo parece não avançar. As soluções demoram, ninguém trava a morte, o cárcere dos dias é uma asfixia doméstica sem direito a balões de oxigénio. Resta-nos fechar os olhos e apelar à imaginação: estar aonde não estamos, ir aonde não vamos. O pensamento pode ser o pior ou o nosso melhor aliado. As saudades têm nome e rosto e os beijos e abraços são promessas dolorosas por cumprir. Queremos todos o mesmo. O que mais desejamos é que este tempo passe e o mundo avance para outra realidade. Uma vida nova, sem distâncias de pele, na qual nos possamos voltar a cheirar e tocar ao sabor do desejo.

APELOS DO SENTIR

Sonha-me com todos os teus limites e limitações. Permite-te o encanto breve das palavras, antes que o vento da realidade nos sopre desilusões. Alcança-me em lugares que me desconheço. Eleva-me aos picos aonde sozinha receio ir. Revela-me o caminho breve para a plenitude. Encaminha-me ao consolo do teu abraço.

RECONFINAMENTO - II

Dia após dia, neste lento riscar de calendário, reduzo-me ao essencial,  porque tudo me sobra. Pão, saúde e até liberdade, neste dever de confinamento, por não estar presa a uma cama de hospital. A plenos pulmões inspiro, e toda uma bênção me atravessa o corpo, confirmando a gratidão de continuar aqui e agora, neste momento de inesperada realidade, ao qual hei-de sobreviver para contar.

DESCONFINAMENTO ELEITORAL

Cai um avião cheio de portugueses todos os dias. Há quem lhe chame pandemia. De sol a sol, meter a cruz no papel é pretexto para desconfinar o corpo sem culpa, e as filas demoram-se no vagar para regressar a casa.  À noite, nas ruas da cidade fantasma já não se avista vivalma, e os votos seguem lacrados até ao juízo final. Quem será o presidente deste povo que tanto chora? Amanhã todos saberemos. Se o Marcelo que sucede a Marcelo é menos dos afetos e mais daquilo que é preciso. Da coragem para endireitar o caminho esquerdo que tem entortado o futuro.

RECONFINAMENTO - I

Na letargia das horas pandémicas, há os que tudo fazem e os que nada podem fazer.  Na balança desequilibrada da vida, de um lado, os impotentes, desempregados, famintos. Do outro, o cansaço incurável das batas brancas no limite da rotura.  Aliviados apenas os sãos, os passivos remunerados, a quem sobra a culpa do privilégio sobre todos os outros.  Em tempos de carência, sempre haverá sacrificados, nos desacertos incongruentes das forças que tudo fazem girar.  Imperativo é dignificar os mortos e não medir esforços para poupar os vivos, na certeza de que tudo, tudo passa, e o mundo gira, equilibrando a distribuição dos esforços.