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A mostrar mensagens de abril, 2011

Conto "Casa de Bonecas" - página 10

Nas paredes daquele grande salão ficaram gravadas as memórias do dia que havia de mudar o rumo de toda a sua vida. E isso inspirava Maria em cada um dos seus projectos. Sempre que necessitava de inspiração, recordava a conversa em que tinha dito a Dona Carlota que iria desenhar uma enorme casa só para si. Talvez movida pela crença de que o espírito da sua velha amiga a estaria sempre a ajudar, a inspiração acabava por surgir naturalmente, como que por magia. Os anos foram passando: Primavera, Verão, Outono, Inverno e tudo de novo outra e outra vez. Maria tem vinte e oito anos numa tarde abafada de Verão. Está submersa em vários metros de esquiços que rascunham projectos de casas que hão-de nascer. Um pouco cansada, decide fazer uma pausa. Pega na caixinha de música que orgulhosamente exibe sobre a secretária e decide dar-lhe corda. Ao som da familiar melodia, abre a janela, deixando a brisa acariciar-lhe o rosto. Por entre as cortinas, que ficam a dançar ao ritmo do vento, Maria esprei

Conto "Casa de Bonecas" - página 9

Na ausência de Dona Carlota, Pedro fez cumprir os desejos da avó e encarregou-se ele próprio de garantir que nada de essencial iria faltar a Maria. Assegurava-lhe a compra de todos os materiais escolares, inscreveu-a num centro de ocupação de tempos livres, garantindo um lugar onde poderia cumprir os deveres com o acompanhamento de que não dispunha em casa, e definiu um dia da semana para ir buscá-la à escola. Todas as quartas-feiras, estacionava o carro junto ao portão e esperava que Maria chegasse. Depois, rumavam a uma esplanada à beira-rio, fosse Verão ou Inverno, e sentavam-se a comer um gelado e a relatar tudo o que lhes tinha acontecido ao longo da semana passada. No dia em que completou dez anos, Maria ganhou a sua primeira bicicleta. E no dia em que completou quinze, um computador. Aos dezoito, já na universidade, recebeu um cheque que serviria de passaporte à maior das ambições de quem atinge a maioridade: tirar a carta de condução. Da menina que uma noite andara perdida pela

Conto "Casa de Bonecas" - página 8

Se calhar atrasou-se, foi o seu primeiro pensamento. Poucos segundos depois chegou Pedro cabisbaixo, ao volante do seu automóvel. Parou o carro e convidou-a a entrar: - Entra Maria, precisamos de conversar – anunciou, com uma voz trémula. - E a Dona Carlota, porque é que ela não me veio buscar hoje? – Questionou a menina, longe de adivinhar qual seria a terrível resposta. Pedro ficou em silêncio mais alguns segundos. Ainda não sabia bem como dar a notícia. Esperava encontrar algures no seu pensamento as palavras mais correctas para falar de morte com uma criança. - A avó… ficou doente esta noite – avançou Pedro. - Doente? – Interrogou Maria. – Mas doente com quê? – Quis saber a menina, forçando Pedro a rapidamente inventar o cenário menos doloroso possível: - A avó sentiu-se mal e tivemos que chamar o doutor. Ele veio, deu-lhe um remédio e a avó ficou a dormir… - Pedro fez nova pausa, agora com os olhos rasos de água. As evidências faziam Maria começar a aperceber-se de que deveria ter