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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2011

Desembrulhando memórias de Natal

A meio da tarde, já o cheiro do fogão a lenha inunda a casa. Orgulhosa dos novos sapatinhos de verniz, Sofia sobe os poiais da entrada a saltitar. Os primos correm para a receber. Passou mais um ano e estão todos tão crescidos… Trocam abraços e beijos e cheiros. Os primos de França emanam aromas que vêm do estrangeiro. Os cremes e perfumes que usam exalam fragrâncias que perduram na memória de Sofia até hoje. A menina atravessa o longo corredor a correr, raspando ao de leve as pontas dos dedos pela parede áspera pintada de rosa velho. Desemboca na sala, onde não se demora, subindo mais um degrau até à cozinha onde fervilham tachos no pequeno fogão. A avó bate claras em castelo, ultimando as farófias que vai servir logo à noite. Sempre a subir. Falta cumprimentar o avô, que como sempre está no quintal, envolto no seu mundo de redes e alcatruzes com cheiro a maresia. Sentado no banco de madeira pintado de azul, junto ao fogão a lenha, de boné de fazenda e bigode sempre negro (apesar d

O meu fado é Lisboa

Querida Lisboa, escrevo para te contar que a menina que viste nascer já é uma mulher. Que distraída que andas, minha querida, quem nem a viste passar no outro dia. Sim, ela esteve aí. De visita rápida, daquelas que os médicos costumam fazer. Que disparate, isso era no tempo em que os senhores doutores se dignavam a ir a casa dos pacientes e os tratavam pelos nomes. Onde é que isso já lá vai… Voltando à conversa, sim, a menina já senhora passou por ti há dias. Chegou de comboio. Agora que já atravessa a ponte, é uma maravilha. Contou-me que a manhã estava fria, porém ensolarada. De óculos escuros, fez-se ao caminho, a pé como mais gosta. Parece que a estou a ver, sentindo-se livre como um passarinho que o dono libertou da gaiola. Cabelos ao vento, pescoço aconchegado pela sua inseparável écharpe. Ou seria antes um cachecol? Parece que ainda a oiço pisar o chão ao ritmo marcado pelo atrito das solas de couro nas pedras da calçada. Levava as suas botas altas, parecia uma cavaleira. E lá