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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2021

RECONFINAMENTO - V

Estamos à espera do fim ou de um novo começo. As forças fraquejam como se nos tivessem engessado os membros e asfixiado o cérebro durante muito tempo. A paciência esgota-se, gota a gota, na contagem infinita dos dias. A vida em casa tem sido útil para quem se cuida, tem projetos em curso, ou deseja aprender. Para os outros, um desperdício e um desconserto. Quantas mentes vão sair desaparafusadas desta pandemia? Quantos pobres já deixaram de saber fazer contas? Quantas bocas anseiam pelo milagre da multiplicação do pão nosso de cada dia? Depois da vacina, quantos anos vai demorar a chegar a cura para todas as consequências paralelas desta doença? Alimentemo-nos de fé e acreditemos, uma vez mais, no milagre português.

14 de fevereiro de 2022

Se daqui a um ano estivermos juntos, meu amor, haja ou não pandemia, quero celebrar o 14 de fevereiro em isolamento. Poupo-te as flores, o cartão romântico e o jantar à luz de velas. Dispenso as selfies com beijos e abraços propositados. Troco tudo pela tua atenção plena no meu sorriso. Descontaminados do mundo, só tu e eu, numa preguiça feliz, olhos nos olhos, pele com pele, sem telefones, obrigações ou outras distrações. Podemos fazer uma pausa para um brunch e recomeçar, numa contemplação síncrona, onde o amor é a verdade que ressoa a cada batida atlética dos nossos corações. Nos braços do silêncio, confortados pela paz, só tu e eu, meu amor, sem público nem fingimentos, com a bênção sagrada de São Valentim.

RECONFINAMENTO - IV

Para alguns, a vida continua a acontecer. Não há pandemia que trave a força do amor. Pares que se encaixam, barrigas que despontam, crianças a pedir para vir ao mundo, mesmo com tudo virado do avesso. O futuro está a nascer todos os dias, ainda que só se fale de doença, desgraça e morte. Muitos sentem que o tempo parou, que a vida ficou em suspenso a aguardar respostas e soluções. Outros reinventam-se e descobrem soluções dentro dos problemas. Hoje, ao caminhar pelo deserto das ruas, procurando na dor física um esquecimento para os projetos adiados, compreendo, passo a passo, que temos todos diferentes velocidades. Apesar da ânsia de realizar, gosto de esperar. Pelos momentos, lugares e pessoas que conferem um sentido supremo à existência. Concluo que nenhuma solidão ou pressa deve precipitar o que só o tempo traz, naturalmente, com a sua infinita sabedoria.

QUERIA DIZER-TE

Não vou dizer-te que estou a morrer de saudades porque seria admitir uma fraqueza que não quero ter. Não vou dizer-te que te penso mil vezes por dia porque não sou dada a exageros. Não vou dizer-te que é infinito o meu desejo de te encontrar porque somos finitos e podemos acabar antes que isso aconteça. Não vou mas queria dizer-te.

RECONFINAMENTO - III

Os dias passam velozes mas o tempo parece não avançar. As soluções demoram, ninguém trava a morte, o cárcere dos dias é uma asfixia doméstica sem direito a balões de oxigénio. Resta-nos fechar os olhos e apelar à imaginação: estar aonde não estamos, ir aonde não vamos. O pensamento pode ser o pior ou o nosso melhor aliado. As saudades têm nome e rosto e os beijos e abraços são promessas dolorosas por cumprir. Queremos todos o mesmo. O que mais desejamos é que este tempo passe e o mundo avance para outra realidade. Uma vida nova, sem distâncias de pele, na qual nos possamos voltar a cheirar e tocar ao sabor do desejo.