Há horas em que sofro de silêncio
agudo. Num acto de egoísmo, engulo as palavras e guardo-as só para mim.
Retenho-as, não sei se na garganta ou na cabeça, apenas porque são palavras
feias que não quero partilhar. Se tivesse alma de génio, como o poeta,
escreveria sempre Sol. Mas, entretanto, chegou o Inverno gritando trovões e há
todo um inferno que se apodera de mim, usurpando a minha colecção de vocábulos
felizes. Quando não escrevo, jogo às escondidas com o pensamento e bebo silêncio
em goles nocturnos de chá, aquecida pelas palavras de um livro.
por Cláudia Sofia Sousa
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