Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coisa, mas ainda não ter idade para usufruir das regalias seniores. Esta idade é um limbo no qual vivemos em equilibrismo constante, entre o jovem que fomos e o sábio que desejamos ser. Ao passo que conquistamos relevância social e o respeito alheio, vamos perdendo faculdades físicas e beleza. Como é dura a força da gravidade que nos torna mais gelatinosos a cada dia que passa! Aceitar é a palavra mágica. A aceitação torna tudo mais leve, mesmo o que nos pesa. E quando o exterior tende para o peso e para baixo, o interior deve tender para a leveza e elevação, tornando cada ano que passa numa benção, da qual resultaremos espiritualmente mais perto da perfeição divina a que devemos almejar.
por Cláudia Sofia Sousa
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