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15 minutos

Tanto que sonhei, tanto que desejei. E nada acontece. Nada do que desejei que fosse a minha vida. A cada encruzilhada pareço seguir sempre o caminho mais sinuoso. Certo dia terei ouvido dizer que “os caminhos mais difíceis são aqueles que nos levam mais longe”. Serão mesmo? Questiono. Não serão antes os que nos fazem perder mais tempo. Este precioso intervalo de tempo que nos separa do fim e que, por maior que seja, nunca é demais. Sinto falta de animação. Sinto os dias a passar só por passar. Sei-me capaz de tanto e pareço não conseguir fazer nada. Vejo-me em tantos outros sítios longe daqui. Consigo visualizar-me na pele da pessoa que gostaria de ser. Só não sei como consigo lá chegar e fundir-me nela até que sejamos uma só. Talvez nunca chegue. Talvez chegue tarde de mais. Ou talvez surpreendentemente consiga lá chegar subitamente, de rompante, sem aviso prévio, quando menos esperar. A vida é boa. A vida é má. A vida tem dias… Gosto de viver no limite das emoções. Gosto daqueles instantes de infinito em que os acontecimentos nos fazem testar a velocidade máxima do bater do coração. É só nesses momentos que me sinto verdadeiramente viva. Em todos os outros, aqueles em que nos arrastamos pelo tiquetaque dos dias, sinto-me apenas um espírito que vagueia à procura de algo. Há dias em que me sinto mera espectadora do filme da minha vida. No dia em que encontrar o caminho, serei a actriz principal. Quero brilhar sobre a passadeira vermelha. Que venham os meus quinze minutos de fama. Até eu mereço. Toda a gente merece. Só pelo simples facto de viver e não o poder fazer para sempre.

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