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15 minutos

Tanto que sonhei, tanto que desejei. E nada acontece. Nada do que desejei que fosse a minha vida. A cada encruzilhada pareço seguir sempre o caminho mais sinuoso. Certo dia terei ouvido dizer que “os caminhos mais difíceis são aqueles que nos levam mais longe”. Serão mesmo? Questiono. Não serão antes os que nos fazem perder mais tempo. Este precioso intervalo de tempo que nos separa do fim e que, por maior que seja, nunca é demais. Sinto falta de animação. Sinto os dias a passar só por passar. Sei-me capaz de tanto e pareço não conseguir fazer nada. Vejo-me em tantos outros sítios longe daqui. Consigo visualizar-me na pele da pessoa que gostaria de ser. Só não sei como consigo lá chegar e fundir-me nela até que sejamos uma só. Talvez nunca chegue. Talvez chegue tarde de mais. Ou talvez surpreendentemente consiga lá chegar subitamente, de rompante, sem aviso prévio, quando menos esperar. A vida é boa. A vida é má. A vida tem dias… Gosto de viver no limite das emoções. Gosto daqueles instantes de infinito em que os acontecimentos nos fazem testar a velocidade máxima do bater do coração. É só nesses momentos que me sinto verdadeiramente viva. Em todos os outros, aqueles em que nos arrastamos pelo tiquetaque dos dias, sinto-me apenas um espírito que vagueia à procura de algo. Há dias em que me sinto mera espectadora do filme da minha vida. No dia em que encontrar o caminho, serei a actriz principal. Quero brilhar sobre a passadeira vermelha. Que venham os meus quinze minutos de fama. Até eu mereço. Toda a gente merece. Só pelo simples facto de viver e não o poder fazer para sempre.

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

VERSÃO 4.5

Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...