Não te vou dizer adeus. Reservo essa palavra para as
despedidas eternas. Vivemos uma Primavera onde apanhámos flores e avistámos o
arco-íris. Sempre que o Inverno se pôs à espreita, soprámos nuvens e dançámos à
chuva. Tentámos a sorte mas tivemos azar. Deixámos o barco do amor naufragar. Saltámos
borda fora num túnel chamado noite. Só um mergulho na solidão nos poderá
resgatar. Enquanto não abrandar o fôlego nem voltar a raiar o dia, a única luz
ao fundo do tempo será a recordação brilhante do nosso olhar.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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