Faz hoje uma semana que embarcaste na derradeira
viagem. Trajado a rigor, partiste como sempre viveste: depressa demais. Sem
tempo para envelhecer. Agora, nunca mais. Nunca mais o teu sorriso alvo. Nem os
cabelos grisalhos ao vento, tão alvoroçados como a tua voz. Agora és um vazio
que vamos preenchendo de memórias. E tantas que nos deixaste. Eras intenso em
tudo o que fazias. “Onde é que andaste embarcada?”, perguntaste-me no dia em
que entramos no mesmo barco. Mal sabíamos que era o barco do amor. Nesse tempo,
deste-me mundo. E juntos criámos vida. Viverás para sempre num rosto de
criança, mistura perfeita dos meus e dos teus traços. A partir de agora,
recordar também será viver. De alma ainda esfaqueada, numa anestesia geral dos
sentidos, eu prometo: vou continuar-te.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

Eu acho que o texto está espectacular. Gostava de poder expressar o que sinto pelo meu irmão, da mesma forma. Mas os pensamentos estão cá dentro e saem para fora numa explosão continua de alegria e de tristeza. O que fazer? Seguir em frente com passos pequenos e desequilibrados numa tentativa de viver de novo sem um grande pedaço de nós. Adoro-te meu irmão. Estarás sempre aqui num cantinho do meu coração, como tive oportunidade de te dizer. Até sempre.
ResponderEliminarPerpetuar e honrar a sua memória, é tudo o que podemos fazer. Este pequeno texto é apenas um começo.
Eliminar