Não me
esqueci. Como poderia esquecer-me? Hoje farias 60 anos e só o cabelo grisalho
denunciaria a tua idade. Sempre pareceste muito mais novo, exibindo uma saúde
férrea de espalhar inveja. Não fosse aquela maldita doença e ainda aqui
estarias, a massacrar-nos com o teu mau feitio militante. Quando alguém parte
cedo demais, até os defeitos deixam saudades. A implicância com coisas menores
era o teu forte. Por vezes, parecias possuir superpoderes e exigias o mesmo
heroísmo de todos em teu redor. Não eras o amor perfeito mas um grande
companheiro de viagem. Não eras um educador exemplar mas um pai dedicado e
carinhoso. Eras um pai-avô, como te autoproclamavas, depois de teres repetido a
experiência pela quarta vez aos 50 anos. Nesse dia, há dez anos, visitámos o
Oceanário e à saída tirei-te uma fotografia. Tinhas um bebé de três meses ao
colo. De olhos cerrados, beijavas-lhe a testa, inspirando amor. Era o teu
“brotinho”, dizias tu. Era o “nosso tesourinho”, dizia eu. Como o tempo passa.
Já tem dez anos a nossa menina e está a ficar uma mulher. E foi ela quem
decidiu que continuas a fazer anos. “Sim, sim! Os mortos também fazem anos,
mamã”, disse-me um dia. E quem sou eu para contrariar a magia do inocente
imaginário infantil? Por isso, neste dia, continuas a fazer anos e nós a
celebrar a tua existência. Agora, sem bolo nem velas mas com a memória acesa
pela eterna chama do nosso amor.
por Cláudia Sofia Sousa
;( <3
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