Nós, os que
buscamos a paixão a cada passo, ao virar de cada esquina, falamos a mesma
língua. Só nós nos entendemos e reconhecemos ao primeiro olhar. Andar pela
linha do meio, pé ante pé, não é para nós. As almas transbordantes não gostam
de copos meio cheios nem meio vazios. Abominam todo o tipo de planaltos. Ou é
montanha ou é planície. Ou é tudo, ou não vale nada. Nós os que, a poder
escolher entre o “não dói nada” e o “isto vai doer”, seguimos em frente,
sabemos que não doer é sinónimo de não viver, não sentir dor é uma espécie de
morte antecipada. Nós, os que arriscamos tudo sabendo que tudo podemos perder,
somos os únicos que em dias de sorte podemos ganhar um jackpot. Quem tudo quer, tudo perde. Mas, quem nada quer, nunca
ganhou nada.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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