Viajo
não sei para onde, ignorando quem me espera. Só o destino saberá guiar-me.
Nesta longa jornada, tantas vezes de pés descalços, incomodam-me as feridas mas
não posso parar. Abrando, volta e meia, apenas para respirar tempo. E de ares
renovados, sigo viagem. Não por estrada
direita, prefiro os trilhos de curva e contra curva de terra batida. Afinal,
pés calejados aguentam tudo e por aqui a vida parece tão mais bonita. Tem cor e
cheiro e mais sabor. Em cada árvore encontrada, provo um fruto e saboreio
prazeres. Que delícia a liberdade de calcorrear a vida sem pressa nem medo.
Neste constante diálogo surdo-mudo, falta-me aprender a linguagem gestual da
vida. Preciso saber decifrar que respostas me revelam os silêncios com que me
vou cruzando.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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