Olha à tua volta e repara: quantas inutilidades acumulas em
teu redor? Ruínas de amores defuntos, mensagens com respostas impossíveis, objectos
sem estante, roupas triplicadas eternamente sem uso. É assim a vida, sempre tão
desarrumada. Ideias que não cabem em gavetas, demasiados assuntos sem espaço ou
resolução. Terás sempre as janelas por onde podes escancarar-te em gritos de
liberdade. Queres ser mais feliz? Rasga papel e oferece-o ao vento. Despe o
guarda-roupa e agasalha os pobres. Limpa todos os teus recantos, escorraçando as
estorvas memórias de pessoas e tempos irrepetíveis. Mais leve, abandonado de ruídos,
caminharás no equilíbrio do silêncio e todos os teus pensamentos serão paz.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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