O que se demora acontece de repente. Na alegria do é agora,
todo o tormento da espera se esvai. Bendito seja o esquecimento! O tempo é tão
relativo quando se deseja o que não chega. Cada dia pode parecer um ano, cada
semana, uma eternidade. E quando surge o momento, aquele que alimentou suspiros
e sonhos, faltam as palavras. A perfeição é tão efémera quanto indescritível.
Quanto tempo dura a felicidade? Um momento. O beijo, até que em fim. A glória
ingénua do canudo na mão. A esperança eterna do sim no altar. O choro feliz que
dá à luz. O pódio. A ribalta. O suspiro que procede do livro editado. O
instante em que a vida, finalmente, acontece.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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