Há dois temas sobre os quais evito pronunciar-me: política e religião. Não porque seja contra nenhum deles, muito pelo contrário. Mas por haver sempre quem esteja disposto a contestar o que quer que se diga sem o menor conhecimento de causa. Falar mal só por falar. E isso entristece-me. Contudo, hoje, no primeiro domingo da Quaresma, no qual fui eleita para ser batizada na vigília Pascal, senti a necessidade de partilhar a minha alegria, dando o meu testemunho como (quase) cristã. Hoje, quero agradecer o ateísmo paterno que me impediu de receber o sacramento inconsciente do batismo infantil. Graças a essa liberdade de escolha, pude, em idade adulta, sem quaisquer pressões, decidir-me pela conversão ao cristianismo. Tal como o amor à primeira vista é impossível de explicar, quem encontra Deus não tem palavras para esclarecer o que sente. No meu caso, houve um momento de iluminação e reencontro com a paz interior que surgiu de um convite inesperado para entrar na igreja – local que nem ousava pisar, sabe-se lá porquê. A verdade é que me senti tão bem, tão bem, tão bem, que decidi voltar uma e outra vez, até confirmar que tinha encontrado o meu caminho da fé. Inspirada pela leitura do Evangelho, tornei-me uma catecúmena estudiosa e hoje passei a eleita, numa cerimónia celebrada pelo Bispo do Algarve, D. Manuel Quintas. Vejo a conversão religiosa como um ato consciente da assunção da nossa espiritualidade. Não é a Igreja que faz as pessoas melhores. É a sua vontade de seguir o exemplo de Cristo. E isso nem todos conseguem, mesmo os que não falham uma Eucaristia. A verdade é que a liturgia da palavra e a homilia têm o dom de nos abrandar, permitindo que vejamos a vida com outros olhos, despertando-nos para uma nova existência, de maior e melhor aceitação das duras provas da nossa tão efémera existência humana. Converti-me e sou mais feliz. Vou à missa ao domingo porque gosto e ninguém me obriga. Quero, de plena vontade, tornar-me uma cristã praticante. Porque isso de se ser “católico não praticante”, como dizia uma professora minha, é o mesmo que nada. Ou bem que se é ou não se é. Ninguém é melhor pessoa só porque vai à igreja. Mas também não vejo necessidade de lá ir apenas comprar sacramentos, vestir de gala, tirar fotografias, pagar promessas, e rezar a Santa Bárbara quando faz trovões. Ser cristão é um estado de alma que se revela na prática do bem, sem olhar a quem, por amor à Humanidade.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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