Quando
a minha avó me levava ao parque, eu tinha cinco anos e ainda sabia ser feliz. A
avó levava sempre a minha mão bem apertada pelo medo de não me deixar fugir. Esses
dias eram sempre finais de tarde de verão, daqueles que o Sol gosta de
prolongar até que resolve esconder-se. Depois de jantar, lá íamos nós, rua
acima, pela fresquinha – como ela dizia – agradada com a brisa que antecede o
anoitecer. Lá em casa, jantávamos cedo, às seis da tarde já a comida estava na
mesa. Era assim por causa do avô. Ele chegava das obras com a roupa e as botas
pesadas de cimento e tomava sempre banho antes de ocupar o seu lugar cativo à
mesa. Depois, com as mãos espessas e ásperas de tanto acartar baldes de massa,
cortava uma fatia de pão. Vida dura a do avô. As obras começavam sempre cedo,
sobretudo no verão, para fugir à braseira estival. Vida dura a da avó. Uma vida
feita de espera e de cuidar dos outros. Mas nem um lamento. Daquela boca só
saíam jóias e rebuçados. Daquelas mãos, só carinho. Daquele colo, só conforto.
Daquele tempo, só saudades. E o cheiro inconfundível da sombra noturna dos eucaliptos.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

Muito bom, parabéns.
ResponderEliminarMuito bom, parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigada!
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