Já nos habituámos a isto mas não queremos viver assim para sempre. Se era só um castigo para que nos portemos melhor, de agora em diante, já pode acabar, que nós prometemos cumprir. Ó vida, volta que estás perdoada e devolve-me os amigos e todos os abraços, as missas e as procissões, os jantares-convívio e as festas de aniversário, as reuniões de grupo e os festivais de música, do marisco, da sardinha, do caracol, da cerveja, do Pontal, ou whatever... Traz-me de volta o trabalho, a sério, que isto de brincar às empresas sem clientes à procura daquilo que temos para lhes vender é um tédio. De onde é que nasce o dinheiro? Boa! Com tanta reinvenção, vai na volta, é desta que vamos todos plantar árvores das patacas... Será que os chineses já inventaram isso? Vá lá, todo o veneno tem um antídoto. Quem se lembrou de magicar este vírus está de parabéns. Que ideia brilhante, resultou! Mas agora já chega de brincadeira que nós queremos viver. Libertem lá a porra da vacina que o pessoal está deserto para voltar a viajar e cumprimentar-se calorosamente nas ruas como manda a tradição.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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