Desejo libertar-me deste ano atípico, com o alívio com que descarto cada máscara para o lixo. Um ano perdido que nos fez reféns de um vírus, onde é que já se viu? Não basta a vida ser curta para realizarmos tantos sonhos? O futuro adiado aniquilou-nos o ânimo. As oportunidades perdidas roubaram-nos o alento. Mas a esperança é uma chama que não se apaga de um sopro. Continua a arder-nos cá dentro, ainda que tudo em redor seja pedra e gelo. O ambiente é inóspito, a estrada que se vislumbra para chegar a algum lugar é longa demais, as forças soçobram, mas a ideia de recomeço acalenta-nos sempre com um bafo de novas possibilidades. Havemos de bater às portas desejosas por se abrir e conhecer as pessoas certas que nos ajudem a cumprir propósitos. Havemos de ser capazes de concretizar aquele projeto há tanto adiado apenas por preguiça. Havemos de aprender a transformar as fraquezas em forças e as ameaças em oportunidades, jogando a nosso favor o marketing da vida. Havemos de ser criativos e superar, de forma inteligente, tantas derrotas temporárias, para sairmos vencedores desta guerra invisível que nos tem destruído por dentro. Havemos de ser capazes de só pronunciar palavras de bem e de nos reconciliarmos, primeiro connosco, depois com todos os que nos tenham ofendido. Havemos de ser abrigos da paz em tempos de revolução, para que o caos exterior não tenha espaço para habitar em nós. Havemos de ser oportunidade, sabedoria, realização e prosperidade em 2021, rasgando 2020 aos calendários como se nunca tivesse existido. Apaguemos da memória “o ano da máscara”, como quem esquece um pesadelo ao acordar, e despertemos para o novo ano com uma renascida energia de viver. Afinal, sobrevivemos, e podemos sempre recomeçar.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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