Nem sempre me faço entender como gostaria. Chego aos outros deturpada, uma versão caramelizada da minha doçura interior. Por vezes, sou dura ao paladar. Mas quando me permito ser saboreada, sou mel ou qualquer outra substância açucarada, causadora de uma saudável dependência. Não me desgostes por puro ímpeto. Senta-te ao meu lado e oferece-me tempo. Conhecer o outro é uma arte que requer serenidade, compreensão e vagar.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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