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A AURORA DA SABEDORIA

Mais um ano para bendizer e carimbar no passaporte da minha existência. As decisões multiplicam-se e não ficam mais fáceis com o passar do tempo, ganhei foi a capacidade de equacionar melhor o que não quero, com coragem para preferir o nada quando algo me sabe a pouco. Sempre que uma dúvida me assalta, começo por descartar todas as soluções que não me convêm, até a decisão mais lúcida prevalecer. O mundo acelera e enlouquece a cada dia que passa mas eu nunca me senti tão serena. Eu não sou o fluxo do rio que corre, sou apenas o olhar fascinado que contempla o nascer e o pôr do sol. Cada milagre começa cá dentro. Já ninguém me obriga a correr, se eu não quiser. Aprendi que chegarei sempre no tempo certo aonde sou esperada. Faço o que posso, mediante o que sei, com as ferramentas que tenho. Depois, confio a sorte ao fluxo abundante da vida que deseja sempre abraçar-nos. Neste processo de despertar da consciência, em busca do caminho de regresso à essência - no qual sei que me encontro - sinto-me a caminho, cada vez mais perto, de uma vida elevada. Gosto muito desta idade plena de paz que a sabedoria confere. Por aqui ter chegado, à aurora da sabedoria, hoje estou de parabéns! 

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

VERSÃO 4.5

Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...