- Está um dia tão bonito, aonde é que queres ir? A língua entorpece-me de raiva sempre que me obrigam a responder a esta pergunta. Só me ocorre Paris, Nova Iorque, Rio de Janeiro, ou muitos outros sítios bem longe daqui, onde sei que não é possível ir de imediato. - Sei lá, decide tu. E é o suficiente para que subitamente surjam trovões num céu imaculadamente limpo. Chave no carro, primeira metida, vrrrrmmmm, aqui vamos nós. - Esquerda ou direita? Silêncio. Olhares suspensos na brisa que atravessa o tablier. - Vira para qualquer lado ao calha e vai andando, logo se vê. Palavrões mudos retidos na boca. Mais silêncio. Fecham-se os olhos debaixo dos óculos de Sol e respira-se fundo. O carro ganha velocidade de Domingo, pouco mais que dois cavalos. Num arrastar suave, espreitam-se as vistas que passam pela janela em câmara lenta. Sempre as mesmas ruas, sempre as mesmas casas. As pessoas mudam, mas ainda assim parecem todas iguais. Exibem trajes domingueiros, uma camisola n...
por Cláudia Sofia Sousa