Saímos de casa cedo, ainda pela fresquinha. Há um ânimo de férias no ar. Hoje não há escola, hoje não vamos trabalhar. É feriado e temos o dia todo por nossa conta. Como é bom ter vagar. O carro vai cheio. Vai cheio de gente, cheio de conversa solta, cheio de gargalhadas que nos saem por tudo e por nada. Rimos juntos. Trocamos sorrisos pelo retrovisor. Hoje estamos felizes. Pais, filhos, avós e netos, distraídos pela paisagem que a alta velocidade passa por nós, nem nos damos conta da perfeição do momento. Vamos passar um dia diferente, noutra terra, com outra gente. Vamos andar de mãos dadas para não nos perdermos. Vamos conciliar estômagos famintos num mesmo horário, para nos sentarmos à mesa e pedir a ementa. Vamos todos escolher uma comida de que gostamos, não vamos obrigar ninguém a comer sopa, nem brócolos. Hoje é dia de folga, à mesa não há lugar para discussões. Todos mastigamos com gosto, levamos cada garfada à boca com uma satisfação feita de apetite. Ainda comemos em restaurantes, quando muitos saqueiam hipermercados. Isto merece um brinde. Como as crianças não bebem e os adultos têm que conduzir, celebramos com uma sobremesa. Hoje cada um escolhe um doce. E, de repente, temos todos cinco anos e sentimos que um passeio em família tem sempre gosto de infância. Vamos à feira e compramos um brinquedo. Há música no ar. Há cores de festa por toda a parte. Há balões oferecidos e animais que enchem os pequenos de espanto. Cheira bosta de vaca e a lã acabada de tosquiar. São odores que nos fazem sentir mais perto da natureza. Menos humanos, mais animais, aproximamo-nos sem querer da nossa essência selvagem. Amanhã não queremos ir para a escola. Amanhã não queremos ir trabalhar. A partir de amanhã queremos que seja feriado todos os dias, indefinidamente, até ao fim das nossas vidas.
por Cláudia Sofia Sousa
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