Os sentimentos são como as ondas do mar. Por vezes recuam, partem, libertam-se de nós e vão com vontade própria, como se nunca nos tivessem pertencido. E voltam, quando já não os esperávamos, quando já não tínhamos lugar reservado para eles. Tal como uma onda forte, rebentam sobre nós num turbilhão, podendo até derrubar-nos. Depois, voltam atrás e regressam já mais suaves, como uma carícia de espuma que apenas cobre a pele ao de leve. Há dias em que o mar está chão. Nesses dias reencontramos a paz, a doce tranquilidade de não sentir. No dia seguinte, sem aviso nem previsão possível, um marmoto. Ondas gigantes de sentimentos que nos abalam como um sismo, que fazem estremecer os pilares da nossa existência. Amar como uma onda que vai e vem, numa valsa sensual de areia e água, elementos apaixonados que se misturam mas não se podem dissolver, acabando por separar-se sempre. Os sentimentos são como as ondas do mar. Nascem de parte incerta, das profundezas de um oceano qualquer, de um ponto invisível de um horizonte longínquo. Sem regra ou rumo ou sorte definida, crescem a toda a fúria, erguem-se a ritmos destemidos e acabam por desfalecer miseráveis, esquecidos do seu real propósito, significado ou razão.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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