Estejas onde estiveres, assistirás aos mesmos rituais. Ao vivo ou através da televisão, um coro de vozes em contagem decrescente, descerá uma escadaria imaginária que separa o número dez do zero. Nesse preciso instante, será meia-noite. Doze badaladas de um relógio qualquer vão anunciar ao mundo que está prestes a começar a primeira hora do primeiro dia do primeiro mês de um novo ano. Alguém terá uma garrafa na mão e não tardará uma rolha de cortiça libertar-se-á num estalido seco atravessando o ar sem que ninguém saiba onde vai parar. Rostos subitamente iluminados por uma felicidade sem razão exclamarão vivas e trocarão beijos e abraços e votos de dias felizes, por entre goles de espumante ou champanhe. Os flutes preenchidos pelo líquido dourado e borbulhante elevar-se-ão várias vezes, tilintando uns nos outros em múltiplos brindes de braços entrecruzados. Sentirás na boca um gosto amargo que aos poucos será mais doce e mais doce e mais doce e caminharás rumo a um ponto onde possas avistar a noite. Ao longe, uma faixa de céu a estalar em pontos de luz coloridos será uma festa para os teus olhos. Ao mesmo tempo, buzinas, sirenes, risos e gritos misturar-se-ão no ar até se desfazerem em cacos como os copos de vidro que alguém irá atirar de um janela. Haverá uma corrente de alegria capaz de atravessar toda a gente, por um minuto que seja. O minuto vazio que antecede todos os pensamentos. Quando a euforia começar a esmorecer, serás atravessado pelas memórias. Recordarás o ano que passou numa sequência alucinante de imagens e lembrar-te-ás mesmo do que já julgavas ter esquecido. Mesmo que estejas rodeado de gente, sentirás uma súbita solidão e saudades quem já não está. Sentirás falta de quem está longe e não podes abraçar e nesse instante terás o impulso de procurar um telefone e marcar um número para ouvir a voz daquela pessoa especial. Depois de risos e beijos e lágrimas, nascerão os desejos. É preciso voltar a acreditar que o amor é possível. É preciso voltar a acreditar que de hoje em diante serás capaz de passar mais tempo a fazer o que mais gostas. É preciso voltar a acreditar que poderás passar mais tempo ao lado que quem é mais importante para ti. É preciso voltar a acreditar que a vida ainda te pode surpreender e levar por caminhos desconhecidos rumo ao que sempre procuraste. Se te deixares levar, se te entregares à vida, se tiveres coragem para dar largas à imaginação, podes ter a certeza que a vida te conduzirá a um novo ponto de partida. Ainda que não possas nascer de novo, podes sempre sonhar e acreditar que hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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ResponderEliminarAinda que não possas nascer de novo, podes sempre sonhar e acreditar que hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Muito lindo Cláudia, você é muito sensível e consegue expressar o que sente, nem sempre é fácil ou pode ser a falta de prática rsr..Um feliz 2013 para e você e sua família.
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