De
vestido negro cingido, cabelo negro comprido, ela entra em palco e faz-se
silêncio, que se vai cantar o “Desfado”. Se este último álbum de Ana Moura é um
sucesso mundial, que a consagra definitivamente, não é por acaso. Num estilo
muito singular, ela consegue literalmente desconstruir a melodia tradicional do
fado, preservando a sua essência. A receita de tamanho sucesso, quanto a mim, é
uma mistura explosiva: o calor da voz grave, o jeito sensual de um corpo que se
bamboleia discretamente ao ritmo da música e uma simpatia de sorriso sempre
rasgado. A tudo isto, soma-se ainda a poesia intensa e vibrante de cada letra e, na actuação ao vivo, o mérito dos músicos que a acompanham em
palco. Além da guitarra portuguesa, um baixo, um piano e uma bateria são os
instrumentos a que voz de Ana Moura se encosta para fazer nascer canções de
indiscutível beleza, que proporcionam a quem ouve momentos de raro prazer. Ontem
à noite, no auditório municipal de Olhão, o meu corpo confirmou com arrepios o
prazer que já me tocava em afinidades com o CD que há meses me acompanha nas
viagens de carro. Se me é permitido eleger um tema deste álbum, nomeio a faixa
dez, “Fado alado”, com letra e música do não menos genial Pedro Abrunhosa.
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