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Diário de uma ninfomaníaca

"Diario de una ninfómana", Christian Molina, 2008
Não se deixe impressionar pelo título: o que vou escrever a seguir não é susceptível de bolinha vermelha no canto superior do ecrã. Este é apenas o nome de um livro - que nunca li mas já tinha ouvido falar - que o realizador espanhol Christian Molina transformou em filme em 2008. Há dias, num “zapping” pelo videoclube, por curiosidade, arrisquei ver esta película. Ao contrário do que à partida imaginei, “Diário de uma ninfomaníaca” é um filme que pouco tem de pornográfico. É antes uma desconcertante exposição sobre a confusão dos sentimentos humanos e a sua relação com os comportamentos sexuais. Perturbadores e comoventes, muitas mulheres podem identificar-se com os pensamentos confessados por Valérie (a protagonista) no seu diário. Esta obra revelou-se, para mim, um importante retrato do pensamento feminino reprimido pelas duras regras do socialmente aceite. E se me é permitida uma opinião, em pleno século XXI não faz qualquer sentido continuar a educar as mulheres para não gostarem de sexo, quando isso é um direito nato ao prazer. E o próprio corpo é, e será sempre, a mais pura, natural e próxima fonte de o buscar. Se ficou curioso, veja o filme, que é breve e vale bem a pena.

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

PERTENÇA VIRTUAL

Apaixonaram-se ao primeiro clique.  No início, tudo tinha a leveza eufórica da novidade. Tudo tinha o ingénuo encanto do desconhecido. Enquanto deslindavam os detalhes virtuosos da vida privada um do outro, em mensagens infinitas, contemplavam-se teclando, trocando imagens e palavras e emojis. Foram dias áureos de expectativa crescente. Quando será o nosso encontro real? A magia começava a desvanecer-se ao surgir a questão. Alguém não deseja abdicar do perfeccionismo platónico. Camuflados na virtualidade somos todos muito bons. Para quê sair do casulo para dar a conhecer o pior de nós? O melhor é encerrar o assunto enquanto ainda paira a beleza inicial. Um vai-se esfumando e saí de mansinho. As respostas chegam cada vez mais demoradas até não chegarem mais. Encontros românticos são para gente corajosa na vida real. O que aconteceu aqui foi só uma ilusão. A ludibriosa crença de ser possível uma pertença virtual.  (Publicado na revista ESPÚRIA, outubro 2023)