Andamos a viver em função do momento de alívio. Na vida, todos os pensamentos vão
dar ao prazer. E sempre que ele acontece, o mundo pára. Há segundos que valem por anos, risos perpetuados
nos ecos da memória. Nesses momentos, estar-se vivo revela-se um milagre ainda
maior. Empreendemos dias e suores de esforço em prol de uns segundos de
libertação. Deixar de pensar, apenas sentir. A felicidade é aquele instante de
ilusionismo em que a percepção anula a preocupação. O tempo fica suspenso. Há
um dedo invisível que bloqueia a progressão dos ponteiros do relógio. O sorriso
rasga-se e o universo amplia-se. Nesse ápice, tudo volta a ser possível. Andamos
carentes de viver. À falta de tempo para vivências, somos perseguidos pelas lembranças. Antes de adormecer, eu volto todos os dias ao último lugar onde fui feliz. Era noite e a
minha almofada era o teu peito.
por Cláudia Sofia Sousa
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