Naquela noite, a
natureza prendeu-nos nos braços um do outro. Não adianta fugir quando até a
natureza nos empurra na direção da nossa vontade. Há momentos em que devemos
ceder ao ímpeto do desejo e aceitar o inevitável. Esses são os momentos a que
se chama viver. O resto é a passagem do tempo que nos permite crescer e
aprender. É a preparação para os instantes de suprema felicidade que
esperamos durante anos. Enclausurados na
escuridão da casa assombrada, os nossos olhos encontraram-se no clarão de um
relâmpago, fazendo-nos estremecer como o trovão que se seguiu. E foi então que,
num impulso magnético, as nossas bocas se colaram como ventosas. Nessa noite
tenebrosa, ficámos imunes ao medo. E nada mais conhecemos senão o conforto do
amor.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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