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Fast Love


Plim!
Conheceram se online
E houve logo um clique
Primeiras mensagens
Sorrisos acesos
A esperança a renascer
A solidão a desvanecer

Na virtualidade dos dias
Intervalos felizes
Um entusiasmo desperto
No adormecer das dores da vida

Despertares enérgicos
E tarefas velozes
Na ânsia de palavras cruzadas
Cliques poéticos de adivinhar sonhos
A mesma canção a convidar para dançar

A promessa de um abraço embrulhado no calor de uma mantinha...
A utopia de um amor perfeito!
O teclado apressa se
Na urgência de um encontro
Já só querem fugir
Para os braços um do outro
Num divertido toca e foge
Entre o desejo e o medo
Finalmente, um convite:
Jantamos?
Sim, claro, porque não?
Dizem que a realidade supera a ficção
Porque não? Porque não? Porque não?
Sim, vamos!
Encontram se num abraço
Afinal, são de carne e osso
Confirmam se
Existem mesmo
São reais e estão tão vivos!
Viagem de olhares e silêncios risonhos
Abraços, abraços, abraços...
Os olfatos a tatearem se
Em busca de sintonia
Sim! Gosto! Bom apetite!
As bocas alimentam se
Antes de se provar
Uma troca de garfadas românticas
Antes da coragem do beijo
Antes do princípio do fim
No limite da dúvida
Será bom?
É tão bom, não foi?
O desejo acelera a digestão
A viagem de regresso é veloz
Os corpos rendem se à vontade
Enquanto os problemas do mundo
Caem no esquecimento
Para onde foi o frio?
São duas fontes de calor
A serpentear, serpentear, serpentear...
Beijos redondos
Abraços infinitos
Pensamentos vazios
Uma explosão de prazer imediato!
E depois?
Depois?
Foi estranho, não sei.
É melhor não. Vamos fugir?
Não queremos repetir.
Afinal, a beleza é efémera
E não permite consumos rápidos.
Oh pah! É tão bom, não foi?
Pois, temos pena!
Fim de conversa.
Ponto final, parágrafo.
Mudar de linha. Virar a página.
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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

VERSÃO 4.5

Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...