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O profeta ateu


O meu pai não se chama José, nem sequer acredita em Deus. Mas é o ateu mais cristão que conheço e tem nome de profeta. Homem de grandes virtudes, Eliseu demonstra mais do que diz, cumpre mais do que promete. Podia ser mais generoso a distribuir beijos e abraços mas nem isso é defeito, é apenas feitio. De todos os ensinamentos maiores, devo-lhe a liberdade de escolha e de pensamento. Nunca me obrigou a ser ninguém que não sou, a fazer nada a contragosto ou vontade. Ensinou-me sim a liberdade, sinónimo de responsabilidade, e assim a tenho cumprido. Nunca me impôs habilidades ou religião, curso, namorado ou profissão. Nessa tamanha liberdade de ser, deixou-me uma só condição: se errasse, que soubesse lidar com as consequências. Ainda assim, o desamparo nunca foi castigo e a mão invisível de pai esteve sempre comigo, nas horas de maior aperto. Pai, és um bom homem e um homem bom. Pai, agora grisalho, és um magnífico avô. Pai, na terra és grande como o céu. E aqui és meu Pai, senhor Eliseu.

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