Para alguns, a vida continua a acontecer. Não há pandemia que trave a força do amor. Pares que se encaixam, barrigas que despontam, crianças a pedir para vir ao mundo, mesmo com tudo virado do avesso. O futuro está a nascer todos os dias, ainda que só se fale de doença, desgraça e morte. Muitos sentem que o tempo parou, que a vida ficou em suspenso a aguardar respostas e soluções. Outros reinventam-se e descobrem soluções dentro dos problemas. Hoje, ao caminhar pelo deserto das ruas, procurando na dor física um esquecimento para os projetos adiados, compreendo, passo a passo, que temos todos diferentes velocidades. Apesar da ânsia de realizar, gosto de esperar. Pelos momentos, lugares e pessoas que conferem um sentido supremo à existência. Concluo que nenhuma solidão ou pressa deve precipitar o que só o tempo traz, naturalmente, com a sua infinita sabedoria.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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