Estamos à espera do fim ou de um novo começo. As forças fraquejam como se nos tivessem engessado os membros e asfixiado o cérebro durante muito tempo. A paciência esgota-se, gota a gota, na contagem infinita dos dias. A vida em casa tem sido útil para quem se cuida, tem projetos em curso, ou deseja aprender. Para os outros, um desperdício e um desconserto. Quantas mentes vão sair desaparafusadas desta pandemia? Quantos pobres já deixaram de saber fazer contas? Quantas bocas anseiam pelo milagre da multiplicação do pão nosso de cada dia? Depois da vacina, quantos anos vai demorar a chegar a cura para todas as consequências paralelas desta doença? Alimentemo-nos de fé e acreditemos, uma vez mais, no milagre português.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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