É tempo de sair do casulo e arriscar ser borboleta, mesmo sabendo que as asas já nos foram cortadas há muito. Arrastemo-nos adiante, com o peso de uma responsabilidade solitária que ninguém quer dividir nem partilhar, na direção de um horizonte incógnito. Seremos responsáveis quanto baste para não voltar a regredir, quando é esse o sinal que a Europa nos dá, reconfinando outra e outra vez? Aprendamos de vez o equilíbrio entre o tudo ou nada, para sermos exemplo a seguir. Não será por acaso que liberdade rima com responsabilidade. Saibamos ser livres sem deitar tudo a perder. Que todos estes dias de reclusão nos tenham ensinado ao menos o respeito pela vida uns dos outros. Que todo o caminho possa, ainda que lento e penoso, ser definitivamente em frente.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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