Ainda espero que a felicidade me bata à porta, numa daquelas noites de insónia em que a inquietude nos desperta sem compreendermos porquê. Um telefonema fora de horas, um toque sinistro na campainha às duas da manhã, um sobressalto agudo a fazer ferver o sangue e estremecer o coração. A vida subitamente a pulsar nas veias. De sorriso grande, do lado de fora da porta, uma presença tão esperada quanto inesperada. Porque é que demoraste tanto? Pergunto. O tempo de Deus não é o nosso, respondes, sem perder nem mais um segundo da vida que nos resta para sermos tudo o que temos sonhado.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
Parabéns texto muito agradável! Bravo 👏
ResponderEliminarMuito obrigada! 😊
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