De repente, éramos só nós, à chuva, no meio da estrada. O tempo parou na hora certa dos encontros imprevistos. Pareceu-me ouvir música e o sapateado sorridente do Fred Astaire, quando te perguntei: Vieste dançar comigo à chuva? Não, vim beijar-te à chuva! Prolongou-se um silêncio. E quando voltámos a abrir os olhos, o céu era um arco-íris e nós o sol renascido da tempestade.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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