Aterrar no Aeroporto da Madeira é simplesmente medonho. Assim que o avião perde a altitude suficiente para conseguir avistar aquilo que, lá do alto, me parece uma micro-pista de brincar, a euforia da chegada dá repentinamente lugar ao medo. Uma secura súbita apodera-se-me da garganta e a ansiedade crescente em saber se os meus pés voltarão a tocar terra firme faz com que o coração acelere a uma velocidade superior à máxima atingida pelo avião no pico da viagem. Apesar da deslumbrante vista sobre o Oceano Atlântico, opto por fechar os olhos assim que me apercebo da libertação bem sucedida do trem de aterragem. O piloto é experiente e o avião pára muito antes do final dos quase 3 Km que desembocam no mar. Nem quero imaginar como seria quando a pista tinha metade da extensão actual. Não terá sido por acaso que ocorreu aqui, no Aeroporto da Madeira, em 1977, o mais grave acidente da história da aviação em Portugal, no qual 131 pessoas perderam a vida.
Assolados por um sentimento comum, os passageiros manifestam a felicidade sentida cumprindo o ritual das aterragens difíceis bem sucedidas. Uma forte salva de palmas ecoa dentro do avião. De rosto tímido voltado para a janela, deixo que se solte uma teimosa lágrima há muito presa na garganta sob a forma de nó. Saio do avião avassalada por um misto de alegria e alívio, sem deixar que ninguém perceba, apenas por vergonha, que estive a chorar.
Gostei.
ResponderEliminar