Avançar para o conteúdo principal

O caminho da felicidade

A linha não é recta. São ziguezagues, pontos unidos por linhas acima e abaixo. Os picos são os momentos em que o coração parece querer saltar do peito. Aquele beijo que eu te dei e que tu me deste de volta no momento em que queríamos os dois. A alma a desprender-se do corpo num arrepio quando a tua boca olha a minha enquanto os teus olhos a beijam como se fossem lábios. Um aplauso sonoro, o reconhecimento de que tudo o que fizeste e choraste não foi em vão. A felicidade não se mede em tamanho nem peso. Ser feliz é ser desmesurado. Não medir, nem esperar, saltar mais alto e mais longe, sem temer o limite ou a dor. Ser feliz é um voo em queda em livre de olhos fechados e braços abertos e sorriso esborrachado contra o vento. É um mergulho que se dá sem roupa, deixando as carnes livremente flutuar. Ser feliz é não ter vergonha nem medo. Fazer o tempo todo o que se quer e não apenas o que o mundo diz que se pode. Ser feliz é simplesmente permitir-se. Felicidade é a alma gémea da liberdade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

PERTENÇA VIRTUAL

Apaixonaram-se ao primeiro clique.  No início, tudo tinha a leveza eufórica da novidade. Tudo tinha o ingénuo encanto do desconhecido. Enquanto deslindavam os detalhes virtuosos da vida privada um do outro, em mensagens infinitas, contemplavam-se teclando, trocando imagens e palavras e emojis. Foram dias áureos de expectativa crescente. Quando será o nosso encontro real? A magia começava a desvanecer-se ao surgir a questão. Alguém não deseja abdicar do perfeccionismo platónico. Camuflados na virtualidade somos todos muito bons. Para quê sair do casulo para dar a conhecer o pior de nós? O melhor é encerrar o assunto enquanto ainda paira a beleza inicial. Um vai-se esfumando e saí de mansinho. As respostas chegam cada vez mais demoradas até não chegarem mais. Encontros românticos são para gente corajosa na vida real. O que aconteceu aqui foi só uma ilusão. A ludibriosa crença de ser possível uma pertença virtual.  (Publicado na revista ESPÚRIA, outubro 2023)