Levanto
a cabeça e olho em frente. Dou um passo de cada vez com a firmeza que só a
certeza impõe. Inspiro fundo e expiro, até respirar só pureza, até o ar ser
apenas tranquilidade. Hoje tenho um desafio e vou sozinha. Libertei-me daquele
que me fez refém, sem que me tivesse dado conta. Era prisioneira de anos de um
rei sem trono cuja diversão era colecionar sonhos roubados, desejos por
concretizar. Durante anos, ele foi o meu par. Já nem me lembro, quando nos
teremos cruzado, onde nos teremos conhecido. De repente, tinha-o colado a mim,
como uma segunda pele. Era uma cobertura invisível paralisante. Parece que
ainda o oiço sussurrar-me ao ouvido. Tem cuidado. Não vás. Olha que pode correr
mal. A sorte nunca te assiste. Hoje tenho um desafio e vou sozinha. Preciso ser
apenas eu. Se fizer como sei e sinto, serei dona da própria sorte. Meu eterno
inimigo dos passos em frente, seu teimoso travão das vontades originais, desta
vez vou rejeitar-te. Dir-te-ei não, não e não. Medo, perdoa-me, mas não te
quero mais!
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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