Doença é um nome feio. Mete medo e cheira a
hospital. Soa a morte prematura. Dói a quem a sente e a quem a vê. Há dias vi-a
passar à minha frente. Ia disfarçada de colega de infância. Quase não a
reconheci. Passou empurrada sobre duas rodas. Ao fim de uns segundos, exclamei
de susto: o que foi que aconteceu àquela rapariga que eu conhecia? Senti vontade
de saber mais, mas vergonha de perguntar. Para quê confirmar o que as imagens
revelam sem dó? Nunca mais falei com ela. Se antes não foi oportuno, agora
seria constrangedor. Impossível não sentir compaixão de alguém tão jovem e tão
privado de vida. A doença rouba mais que a idade. Apodera-se da beleza.
Centrifuga a pele e mastiga os ossos. É um furacão de arrancar forças e cabelos.
Por onde passa, deixa apenas os destroços e raramente uma esperança vaga de
recomeço. Espantei-me: naquele rosto não vi tristeza nem dor. Onde contava ver
desespero, observei serenidade. O ser humano habitua-se a tudo. O que não se
pode mudar, aceita-se. Adormece-se desejando acordar de um pesadelo. Há imagens
que têm eco. Por isso, escrevo para esquecer o que vi.
por Cláudia Sofia Sousa
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